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domingo, 18 de outubro de 2009

Ao mar, sempre...


Ao mar, sempre, retorno. Mar que é em mim mais do que qualquer outro tempo seria. Águas, sou, das águas eu vim, às águas voltarei, sem demora ou pressa, sem contratempos, no tempo exato de ser, meu caminho, não mais andar, mergulho, vasto e silencioso, fundo, distancio-me da forma que habitei um dia, sendo o que se transforma, constantemente, em correntezas temporárias, em transitórios rumos, sigo, como rios correndo, correndo, sem saber do mar. Ao mar, sempre, apenas, deixo meu corpo, porto para tantos momentos, minha voz desenhada entre tantas vozes longínquas, perdidas, entrecortadas de grandes silêncios, minha sede de ser, ao tempo de ser, mar, que remove naufrágios e perdas, das ilhas que nasceram de minhas mãos, meus gestos de aproximação, enquanto, vem à tona meus devaneios, nada mais que há será mais profundo do que esse lançar o olhar ao horizonte pleno, azul, e quando turbulento, imenso, sobrepondo arrecifes, torpor para navios soltos, indefesos. As horas todas sem âncoras, sem direção enquanto nado, enquanto nado nada em mim o mar do tempo, sem fim, sem nomes que me prendam ao solo, sem memórias que me digam datas, além de palavras, som, que não se traduz, além de vento, ondas, crescentes e alheias, e nem perguntarei deles, os dias em que me retive em terra, as ruas que andei, erram por aí isentas de meu destino mar, nuvens, chuvas que me reerguem da terra pura e me derramam em águas, onde serei sal, sol, espumas, peixes, duras pedras nuas, pacientes, a olhar, estrelas, poeira de planetas, diluo-me no girar das águas que me conhecem desde sempre, profundezas milenares que teceram a cor dos meus olhos, o voo longo e solitário dos meus sonhos, a linha dos meus ombros, imersos em improváveis rumos, mundos, de inimagináveis seres, onde serei não mais que uma gota imperceptível a flutuar... Ao mar, sempre, volto como se voltasse para mim mesmo, mar que sou, desde já, aqui mesmo, enquanto cumpro ainda meu preencher-me de fôlego, de passos que me levam para não sei onde, até encontrar-me praia, onde caminho, descalço e nu de qualquer pensamento que não seja mar, que não seja vento, que não seja esse encontro de céu e água no meu peito, feito também água, feito mistério sereno, em horas inencontráveis dentro da vastidão das noites, quando for apenas nada mais do que areia no fundo do oceano esse meu silencio pleno que retorna, ao mar, sempre!!

O baú dos sonhos perdidos e vividos





Aprendi com o tempo
devagar, dolorosamente às vezes,
que é preciso
ter as mãos abertas para os encontros, o sorriso simples e
a vontade redescoberta
a cada manhã.
Aprendi muitas coisas,
me tiraram outras tantas...
Nem por isso
me perdi ou me esquivei,
não me escondi  do abraço,
mesmo quando inesperado.
Não cicatrizei em mim
as lágrimas,
deixei-as, vir,ir e fluir
como águas que são...
Tive medo muitas vezes,
muitas vezes disse palavras ásperas
que feriram alguém, muitas vezes
fui eu que as ouvi...
Mas não fui indiferente à vida,
experimentei acreditar nas verdades
que construíram meu ser, e ainda constroem,
procurei compreender as pessoas,
tentei compartilhar, tentei não negar,
busquei respeitar   as verdades
que cada ser traz em si.
Talvez não tenha feito o suficiente
e esquecido tantas coisas...
Mas até onde sei, fui eu mesmo
o tempo todo, mesmo que mudando constantemente
as maneiras de ser eu mesmo...
Mas continuei, senti, deixei-me, triste ou alegre,
como as estações que partem,
se distanciam e se refazem.
E quando me vejo
não é com um olhar cansado
de tudo o que passou,
nem com a dor
dos sonhos acabados,
pois um pouco daquilo tudo
que não me foi permitido
sem saber eu já havia
conquistado.

Calendários



Não levar a sério nunca o tempo.
Prevalece  com um olhar de ironia
sobre os sinais do calendário,
inútil coleçao dos dias.

Não há gesto  nem passo detido,
vão é o sentido das datas.
Frente ao velho sono
tudo é pequeno e cansativo.

Não levar em conta nunca o tempo.
Não são os anos acumulados
que marcam a extensão de uma vida,
mas a intensidade
com que são vividos.