Arquivo do blog

domingo, 20 de dezembro de 2009

Sede do chão...



   Sediará o chão meus movimentos, sede do chão bebendo meus cabelos, tanto quanto as raízes prolongando-se dos meus dedos, quem sabe assim, tento, sem saber que tento, conhecer sementes, por dentro, cairá leve ou pesadamente, esta água que nuvens colhem, cairá sem questionamentos, sobre troncos e terra e meus olhos inundar-se-ão tão facilmente, tão facilmente se desagregará a palavra que visto e que nomeia meu gesto, tornada grão, de terra, ou menos, no vento, tornada leve como pena, sem pena, nem contentamento, o tempo que age  tornando tudo o que toca, pequeno, ou mesmo,  quando grande, passageiro, porque assim é que é, o tempo, cobre-me de silêncios, ou de flores, cobre-me por inteiro, reparte-me, em gotas, sobre capinzais amarelecendo-se ou sobre montanhas nascendo, mares que não duvido dividirão meus espalhamentos, poucos serão os vestígios de meu nascimento, uma folha que foi uma pálpebra, a boiar no vento, uma pétala, talvez um lábio, numa manhã amena, um filete de palha ou fio de cabelo, num ninho trançado, um traço de íris numa asa colorida de borboleta, um filamento de raiz nova que foi um nervo ou um fragmento do que sorriso foi um dia e breve será composição de semente, talvez pássaros me semeiem e campos distantes  me recebam como recebo agora a chuva no peito, nos ombros, que serão talvez pedras em costeiras lapidadas pelo mar, chuva que me diluirá em matas, rios, lagos, logo, logo, que  eu seja solo ao sol ardente dos trópicos.

Um comentário:

  1. acabei de ler o comentário q vc deixo no meu blog...
    mto obrigada pelo poema e pelo elogio!!!
    tenho andado sem tempo, e to postando pouco...
    mas ja ja terei novos textos!

    até!

    ResponderExcluir