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segunda-feira, 22 de junho de 2009





Uma noite perdida nos olhos distantes...
que lugares seu coração visita quando sonha
dentro da noite vazia?!
Vazias sãos as ruas em que caminha só
sem sono e sem pressa
num fim de tarde qualquer?!
Muitas palavras são feitas de silêncio.
será que apenas as árvores ouvem?!
Minhas mãos são ferramentas de uma mão maior,
meus pés são estradas por onde anda o tempo.
Por onde anda o tempo agora?!
Arrastando multidões para o vazio?!
Ou construindo pontes entre estrelas?!
Não se sabe tanto, talvez para isso sejamos feitos:
para amar o que não conhecemos.
E acaso conhecemos o amor?!
Muitas coisas perdidas num oceano
flutuam na superfície.
E não vemos!!
E veremos o próximo pôr-do-sol ainda aqui?!
Ainda aqui aprenderemos sobre nós mesmos
o que em nós mesmos escondemos?!
Há em mim caminhos que eu não escolhi, 
mas escolhi todos os caminhos que segui
e isso não significa que eu esteja certo, nem seguro.
Porque as vidas são como nuvens no céu
e suas verdades mudam constantemente.

Uma música perdida num dia distante no mundo...
Distantes os sonhos agora?!
Às vezes seus olhos sonham antes mesmo
de adormecerem...
Chega um tempo em que as mesmas ruas
caminhadas muitas vezes parecem pequenas?!
E no coração sobra espaço?!
Às vezes pode-se descobrir um tesouro
no mais comum dos dias mas é preciso sair
à rua para vê-lo.
Talvez seja preciso perder-se indefinidamente
para encontrar-se sereno inesperadamente.
Chega um tempo em que as mesmas pessoas
vistas da mesma maneira e da mesma distância
não parecem mais as mesmas?!
As tempestades são fáceis, mas 
como perceber as sutis mudanças do vento?!
E do pensamento?!
Se o que paralisa de medo é o mesmo
que move o desejo!
Como ser tudo que se pode ser apenas num momento?!
Por sobre o seu silêncio e o meu silêncio
um silêncio maior nos escuta.
Talvez sejamos grandes por sermos breves
e contraditórios por sermos humanos, 
mas talvez também sejamos livres
amando o que fazemos.
Um dia foi preciso que o medo de passar a vida
inteira esperando algo que não se sabe o quê
mordesse seus calcanhares
para que seguisse em frente?!
Horizonte ou abismo?!
O que sei é pouco sobre a vida e sobre mim
e nada me garante que saberei mais no fim.
Cada dia é a semente de outro dia
e estar em paz pode ser o mesmo 
que deixar os outros em paz com suas maneiras
de viver.
A vida nunca repete as histórias que cria,
nós é que temos idéias repetidas sobre coisas 
que pouco sabemos.
E do pouco tempo que temos e desconhecemos
é que plantamos a dúvida
sobre o que somos e queremos.

sábado, 13 de junho de 2009

Oração da montanha



 

Que eu saiba ser vento quando a voz de um vento maior
falar nas alturas através de palavras invisíveis
afluindo em meu olhar a todo o momento.
Que eu saiba discernir minha voz verdadeira
do turbilhão de vozes confusas que permeiam a existência.
E que eu aprenda, não a imitar silêncios,
pois a cada ser compete seu próprio e indivisível silêncio,
mas a adentrar com calma meu próprio e vasto silêncio
e nele caminhar sem pressa contemplando sua profundidade sem medo,
como uma montanha contemplando abismos.
Que a paz milenar de uma montanha
seja em mim a paz comigo mesmo e sendo assim, em paz comigo mesmo,
que eu saiba praticá-la em qualquer lugar em que esteja e com tudo o que me rodeia.
Que a minha solidão, por vezes tão dolorosa,
seja, não um esconderijo de lágrimas, uma obstrução do crescimento,
mas um recolhimento benfazejo do espírito
afim de renovar-se constantemente, olhando com paciência
os atos e palavras do dia-a-dia comum,
porque há corações que são mais inacessíveis que as mais altas montanhas...
E de nada adianta subir montanhas e todo esforço é em vão
se não se sabe a que se destina o gesto.
Que meu coração possa ser múltiplo como as estrelas e suave como a chuva serena
e que , como chuva, seja esperança derramando-se
sobre sementes humanas que sonham com a beleza da vida.
Porque há sorrisos que apenas precisam de um outro sorriso para despertarem.
Há flores belas e raríssimas que nascem somente em pântanos...
Há flores que apenas precisam do olhar de um pássaro para se abrirem.
Que eu nunca deixe de saber-me livre
Como o vôo de pássaros confiantes e entregues apenas a liberdade que os criou.
Porque não há liberdade maior do que criar a si mesmo
continuamente, utilizando as asas com que a vida nos moldou.
Mesmo com toda dúvida, com todo cansaço, com toda dor,
que eu saiba andar por entre tudo isso,
pelas ruas ruidosas e agitadas de gente cotidiana,
como nuvens silenciosas movendo-se sobre o mar de morros e cidades.
Que eu saiba abastecer-me em minha solidão, Intencionada ou involuntária,
Das paisagens reconfortantes da alma
que só a coragem de confrontar-se pode alcançar
seja no cume de uma montanha, seja a toda a hora e em todo o lugar.
Que eu aprenda a retirar-me no momento certo
para averiguar em mim a extensão de meus medos,
de minhas angústias, de meus desalentos,
para que eu possa intensificar em mim a superação dos meus erros.
Que eu consiga conciliar em mim sem sobressaltos
a sensação de eternidade que me preenche
com a finitude natural de meu ser que me exprime.
e que meu caminhar sobre esta terra possa ser grande por ser calmo
não só externa, mas ainda mais, internamente.
Que eu saiba deixar-me quando for o tempo de deixar-me,
 -aonde for que ele me surpreenda,
que não depende de mim unicamente, matéria habitada por um breve movimento –
sem prender-me a nenhum momento
porque não se cria obstáculos ao tempo...
Que eu tenha no olhar a capacidade de ouvir
o que dizem outros olhos em silêncio.
Que eu tenha no ouvir a habilidade de ver
o que falam outras vozes além da minha.
E que eu tenha no agir muito mais
do que minhas palavras possam exprimir.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Fluidez...


Não faça força contra o vento

não vá contra a correnteza de cada momento.

À deriva no mundo

Longe

tanto sonho

por tão pouco contratempo.

deixe que os encontros sejam casuais,

deixe que o inesperado da vida

lhe tome pelas mãos na esquina

e o leve

com o espanto de uma criança

que vai ao mar pela primeira vez.

A quem vai por um caminho



Se é preciso mesmo que siga

atente para as cores leves desse poente

que desce sobre os ombros das montanhas

vestindo-as de paz

e deixe que o cair da noite

seja antes de tudo

uma solidão tranqüila que repara

no peito dos viajantes, homens e animais,

o fôlego da caminhada por essa terra extensa,

todos abrigados sob o mesmo cobertor de estrelas

em sua rota intransferível.

Enquanto aquece os pés cansados

mas livres e

o pão solitário numa fogueira simples

repara nesse fato singular sob este céu tão vasto,

ventre de estrelas e mistérios,

são todos livres, todos,

homens e os demais e todos os seres

nessa terra imensa, e viva

- se é preciso mesmo que siga-

em paz

com esse planeta que habita.

Quando vier...


Que o meu amor tenha a força irradiante

de um amanhecer sobre a pele de um oceano

se eu o encontrar

nada mais resista ao seu olhar de estrelas,

à sua voz intensa na escuridão arrastando temporais,

mas que a sua presença seja como um bálsamo,

um céu azul sobre um caminho

quando já não se acredita mais...

Que seja um rio transbordante

no imenso coração da noite,

não um cântaro vazio.

E que a minha sede de vida

seja o seu sustento.

Que tenha a força incontida das marés e vendavais

sobre um tempo seco de solidão

quando vier .

E seja a clareza de um sol o seu sorriso

nas minhas manhãs indecisas...

terça-feira, 9 de junho de 2009

Esperança


É um barco, mas é também esperança.

É um rio, mas é também vida

por onde viajam os sonhos

numa correnteza de circunstâncias

e momentos.

Sou eu sentado numa margem

com o olhar do outro lado

e o coração

no mar.

É um porto e são também dois braços a esperar.

É um silêncio, mas depois das tempestades.

E o sol batendo no peito

e eu já não tenho âncoras

para me segurar...

Há algo...


Há algo de mim que vai embora

junto com a chuva que lava sutilmente,

além das casas e ruas, meu coração no vento.

Há algo de mim que já não existe

nem na face límpida do espelho,

não sei se o medo,

mas a pele vai ainda queimada de esperança e sol.

Só, nenhuma leveza para redimir num momento

a dúvida disfarçada em silêncio.

Nenhuma voz amigável relembrada

ecoando nas veias e cicatrizes da noite sem sono.

Como um naufrago, como um raio, como um rio,

todas as coisas são solitárias.

Todas as coisas só acontecem uma vez,

quando muito.

Enquanto o sol nasce

há um ar lá fora que se renova,

por baixo do lençol azul da manhã

há uma vontade em mim que me devora.

Botar o pé no dia e fazer a estrada mas tem que ser agora.

Porque é preciso...


Porque é preciso mais que o medo

para aquietar na minha pele

esse constante vivenciar o risco

Porque é preciso mais que o fogo

para queimar nos meus olhos

esses horizontes que busco

Desprender-se de conforto e rotina

não por desespero mas

por aventura

Lançar-se ao extremo e

o que não for possível

invento.

Uma noite...


Uma noite um vento perturbou-se entre as árvores e dos ninhos antigos uma canção, como uma asa sem memória, desprendeu-se e voou sobre os olhos adormecidos de uma cidade distante. Eu procurava sorrisos nos caminhos anônimos do tempo mas só encontrei meu rosto boiando no espelho de um lago pequeno. Talvez eu fosse um vento que se esqueceu que era vento e quis ficar...Um rio que vê tudo apenas uma única vez porque nunca é o mesmo rio porque nunca pode parar...
Às vezes o tempo escrevia na pele a lembrança dos sonhos machucados e o silêncio bebia os meus olhos lentamente enquanto eu me misturava às nuvens. Então eu era nuvem, preso ao destino frágil de ser nuvem, às vezes me tornando chuva para secas sementes em vão.
Depois eu acordei e não me vi, talvez eu tivesse saído pelas estradas do mundo procurando a primavera nos olhos das pessoas...

Apenas chuva


Apenas chuva.

E o meu silêncio habitado pela inconfundível ausência.

Pressinto o olhar perdido

contemplando de uma montanha uma trilha de estrelas.

E apenas agora

cavo em meu jardim noturno uma trincheira de sonho

ou procuro em vão desenterrar um tesouro esquecido

no chão de areia de minhas palavras.

porque me surpreendo assim

num lugar que eu não sabia

entre estradas e miragens,

deixo-me também fluir na ventania.

Simplesmente as tempestades não relutam

em me abrigar das calmarias.