Começou com um vento que
ninguém sabia vinha de onde. Vento frio, como se
fosse de agosto , mas era já
setembro, e já era primavera. Era como se o inverno
tivesse esquecido algo pelo
caminho e com longos braços de vento, procurasse. A
chuva vinha em cortinas
intermitentes, primeiro, sobre o mar apenas, sem nenhum
barco, as ilhas
apareciam e sumiam, as ondas revoluteavam, dir-se-ia que até as almas
dos
afogados debandavam-se assustadas em busca de alguma praia segura, o céu
pesou
como se de chumbo fosse. As árvores dobravam-se para um lado e quando iam
já se
acostumando, o vento mudava e lá se iam, de novo as árvores para outro lado.
Algumas pipas perdidas, voavam, que o gosto dos meninos em dias de vento forte
é
empiná-las, mas o gosto das pipas é estourar a linha, e voarem livres no espaço.
Mas
logo não havia mais, nem pipas nem meninos, estes, recolhidos às casas,
aquelas,
ninguém sabe... As ruas de terra varridas, vazios os bancos das
praças, folhas de
jornais passaram apressadas e sumiram detrás das casas, sem
deixar notícias. Via-se
apenas, na longa tarde, um caminhante solitário cruzar
a ponte distante, deixando a
cidade, depois, nada mais se via, silêncio, talvez
saudade. A chuva então, apagou a
cidade...