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terça-feira, 13 de novembro de 2012


         
          Começou com um vento que ninguém sabia vinha de onde. Vento frio, como se 
fosse de agosto , mas era já setembro, e já era primavera. Era como se o inverno 
tivesse esquecido algo pelo caminho e com longos braços de vento, procurasse. A 
chuva vinha em cortinas intermitentes, primeiro, sobre o mar apenas, sem nenhum 
barco, as ilhas apareciam e sumiam, as ondas revoluteavam, dir-se-ia que até as almas 
dos afogados debandavam-se assustadas em busca de alguma praia segura, o céu 
pesou como se de chumbo fosse. As árvores dobravam-se para um lado e quando iam 
já se acostumando, o vento mudava e lá se iam, de novo as árvores para outro lado. 
Algumas pipas perdidas, voavam, que o gosto dos meninos em dias de vento forte é 
empiná-las, mas o gosto das pipas é estourar a linha, e voarem livres no espaço. Mas 
logo não havia mais, nem pipas nem meninos, estes, recolhidos às casas, aquelas, 
ninguém sabe... As ruas de terra varridas, vazios os bancos das praças, folhas de 
jornais passaram apressadas e sumiram detrás das casas, sem deixar notícias. Via-se 
apenas, na longa tarde, um caminhante solitário cruzar a ponte distante, deixando a 
cidade, depois, nada mais se via, silêncio, talvez saudade. A chuva então, apagou a 
cidade...

sábado, 10 de novembro de 2012


Como se fossem asas...

Ruas de palavras

perambuladas pelo tempo

pontes de silêncios

atravessadas com paciência e chuva,

a longa chuva de pensamentos

leves

semeando os gestos

Desamarrar momentos

como se espalhasse borboletas

ou se libertasse pássaros.

domingo, 28 de outubro de 2012


                                                            
                                                                   Que o teu menino...

Que o teu menino seja feito de mar

e de rios e

das sombras e luzes do amanhecer

que ele tenha nos olhos montanhas, cachoeiras

silêncios e caminhos que só dele serão

que só ele andará, que só ele

aprenderá a amar...

Que o teu menino seja feito de sol e de lua e

do momento que existe entre eles, que só ele

saberá, à sua maneira...

Que o teu menino tenha palavras de oceano e

quietudes de alturas

que só ele alcançará...

Que o teu menino seja feito de asas de pássaros e

do calor de ninhos

para que ele possa voar por lugares

que só ele conhecerá, mas que possa voltar

para casa

quando quiser ou precisar...

Que essa casa seja sempre os olhos

de quem o amar...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012



No meio do mundo

Com um grande guarda-chuva furado

no meio da chuva de palavras

ando pelo meio da rua do tempo

na outra mão trago meu nome:

vento misturado a mais vento;

água vertendo mais água...

O que eu sei não tem casa.

Rolando no tapete azul das manhãs:

novelos de estradas.

Com um lápis apenas

com um lápis  e mais nada

faço uma balsa ou uma ponte

e realizo a travessia, a longa travessia

entre a noite profunda que engole o mundo

e transcendente alvorada.







domingo, 23 de setembro de 2012





História

Um  livro achado numa praia

enquanto o sol ainda

não dizia

a cor das coisas que nem existiam

Um grande livro que se lia

ao mesmo tempo

em que se escrevia

e cada página era um dia...

domingo, 5 de agosto de 2012




Semear presenças


Eu semeei teu nome
entre as ilhas de estrelas
e a poeira de luz que escorreu dos meus dedos
silenciosamente
teceu o amanhecer sobre o mar
nesse momento
As gotas de luar
que pingaram dos teus cabelos
ao tocarem a terra foram virando rios
foram virando conchas foram virando
cachoeiras e
por te olhar assim
suavemente nas cores
irrepetíveis do poente
dançando com teus movimentos plenamente
vento, inteiramente dentro
do manancial de todos os movimentos
eu não soube jamais dizer
se eras pétala de estrela
a viajar no tempo ou se eras
estrela dançarina a despetalar-se ao vento
ou se eras o próprio vento.