Arquivo do blog

domingo, 9 de agosto de 2009

Nadando na palma da mão de Deus



Já não há mais remos. Não por tê-los perdidos, mas por não trazê-los, pois já não há mais barcos, nem deles se precisaria, neste momento. Já não há mais remos, a não ser os braços... E a lua brilha sobre algum mar passado, e sobre algum mar presente, e sobre este, vaga onda, pequena, quase branca, quase lenta, nem de saudades nem de alheamento, onda apenas, preenchida por si mesma em sua existência solta. E sobre este mar de agora o que é longe e o que é perto por igual se apresentam, bem poderia também terem o mesmo nome noite e dia, não por qualquer humana melancolia, não minha, nem das coisas, dessas menos ainda. É só um mar, imenso e verde de todos os verdes, imenso e azul de todos os azuis, mar sem tempestades, não mais, nenhuma, mar sem rumos, tão muitos, aos quais já nada se prende mais, mar sem fundo, enfim, sem fim, mar sem navios, sem redes, sem velas, mar para braços, e pernas, apenas. Toda as ancoras cortadas as cordas, correntes, cabos, todos os cascos nalgum lugar nenhum olhando, sem cansaço nem descanso, irretornáveis mastros , sem qualquer naufrágio também e nenhuma ilha para nenhum naufrágo, não há isso, não há farol mais nenhum porque navegante algum mais se avista, não há porto porque não há quem chegue, só águas, com um horizonte também de água, não se vê terras, terras que não se vê, terras que não existem. Águas, nas quais não se vestem roupas de nenhum tipo, nuas claras águas, puras, nem mistérios nem lendas mais, mar em silêncio num mar de mais silêncio aprofundado, um mar que não é tempo, porque eternidade, mas além de eternidade, mar... Um vento e nenhum vento que seja sobre esta hora onde nenhuma hora há, nenhum cais com gente a esperar, nenhuma cidade com cais a esperar gente alguma que não chegará, pois que não há mais gente nem mais cidades há, as estrelas não apontarão mais rotas, as rotas não serão nem mais rotas, e um sol brilhando sobre algum mar passado, e o sol sobre algum mar presente, e sobre este, já não há mais remos. Já não há mais remos, a não ser meus braços, nadando, eternamente nadando na palma da mão de Deus...

Um comentário:

  1. Um abraço de Thaíris para Santiágua....fundo como um mergulho de sete raios no íntimo do mar verde claro dos olhos teus....



    Namaste!

    ResponderExcluir