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sábado, 13 de junho de 2009

Oração da montanha



 

Que eu saiba ser vento quando a voz de um vento maior
falar nas alturas através de palavras invisíveis
afluindo em meu olhar a todo o momento.
Que eu saiba discernir minha voz verdadeira
do turbilhão de vozes confusas que permeiam a existência.
E que eu aprenda, não a imitar silêncios,
pois a cada ser compete seu próprio e indivisível silêncio,
mas a adentrar com calma meu próprio e vasto silêncio
e nele caminhar sem pressa contemplando sua profundidade sem medo,
como uma montanha contemplando abismos.
Que a paz milenar de uma montanha
seja em mim a paz comigo mesmo e sendo assim, em paz comigo mesmo,
que eu saiba praticá-la em qualquer lugar em que esteja e com tudo o que me rodeia.
Que a minha solidão, por vezes tão dolorosa,
seja, não um esconderijo de lágrimas, uma obstrução do crescimento,
mas um recolhimento benfazejo do espírito
afim de renovar-se constantemente, olhando com paciência
os atos e palavras do dia-a-dia comum,
porque há corações que são mais inacessíveis que as mais altas montanhas...
E de nada adianta subir montanhas e todo esforço é em vão
se não se sabe a que se destina o gesto.
Que meu coração possa ser múltiplo como as estrelas e suave como a chuva serena
e que , como chuva, seja esperança derramando-se
sobre sementes humanas que sonham com a beleza da vida.
Porque há sorrisos que apenas precisam de um outro sorriso para despertarem.
Há flores belas e raríssimas que nascem somente em pântanos...
Há flores que apenas precisam do olhar de um pássaro para se abrirem.
Que eu nunca deixe de saber-me livre
Como o vôo de pássaros confiantes e entregues apenas a liberdade que os criou.
Porque não há liberdade maior do que criar a si mesmo
continuamente, utilizando as asas com que a vida nos moldou.
Mesmo com toda dúvida, com todo cansaço, com toda dor,
que eu saiba andar por entre tudo isso,
pelas ruas ruidosas e agitadas de gente cotidiana,
como nuvens silenciosas movendo-se sobre o mar de morros e cidades.
Que eu saiba abastecer-me em minha solidão, Intencionada ou involuntária,
Das paisagens reconfortantes da alma
que só a coragem de confrontar-se pode alcançar
seja no cume de uma montanha, seja a toda a hora e em todo o lugar.
Que eu aprenda a retirar-me no momento certo
para averiguar em mim a extensão de meus medos,
de minhas angústias, de meus desalentos,
para que eu possa intensificar em mim a superação dos meus erros.
Que eu consiga conciliar em mim sem sobressaltos
a sensação de eternidade que me preenche
com a finitude natural de meu ser que me exprime.
e que meu caminhar sobre esta terra possa ser grande por ser calmo
não só externa, mas ainda mais, internamente.
Que eu saiba deixar-me quando for o tempo de deixar-me,
 -aonde for que ele me surpreenda,
que não depende de mim unicamente, matéria habitada por um breve movimento –
sem prender-me a nenhum momento
porque não se cria obstáculos ao tempo...
Que eu tenha no olhar a capacidade de ouvir
o que dizem outros olhos em silêncio.
Que eu tenha no ouvir a habilidade de ver
o que falam outras vozes além da minha.
E que eu tenha no agir muito mais
do que minhas palavras possam exprimir.

4 comentários:

  1. Santi.. agradeço pelas palavras.. não apenas desta poesia.. mas de todas essas belas palavras que saem de seu coração.
    Dentre todos os brilhos do Universo, captastes a mais pura essência na luz das Estrelas.. e transformá-las em palavras não é simples. É apenas para àqueles q possuem este dom especial, de tocar com ternura em todos os corações simultaneamente, numa onda encantada de alento e paz!!

    Que possamos sempre unir nossos dons.. com esses belos laços dourados de amizade.. e continuarmos nessa ascensão de nossas mentes e sentimentos, em harmonia e sintonia.. Caminhando de mãos dadas rumo à este Novo Amanhecer radiante!

    Com carinho,
    Sarinha

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  2. Encontrei por acaso seu blog...Que bela esta oração...Que belos textos encontrei aqui!!!!!
    Estou encantada...
    Zen

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  3. Obrigado pela força e luz de suas palavras!! abraço irmão

    Agnelo Queirós - Fortaleza-Ce.

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